O #SEM FILTROS – Crescendo com a Psicologia é um projeto que integra atividades dirigidas a adolescentes dos 12 aos 16 anos, com o objetivo de promover o autoconhecimento e as competências de autovalorização. Foi concebido como uma proposta de prevenção do desajustamento pessoal, escolar e social, e ao mesmo tempo como um contributo para a otimização da saúde mental, do bem-estar e das relações interpessoais.
Este projeto reflete a necessidade de intervir numa das etapas mais críticas do ciclo vital: a adolescência. Embora muitas vezes entendida apenas como um período de transição, a adolescência é hoje reconhecida como uma fase determinante no desenvolvimento psicológico. O conceito, construído culturalmente ao longo do século XX, continua permeável a novas interpretações e é geralmente dividido em três etapas: adolescência precoce (10-12 anos), média (13-16 anos) e tardia (a partir dos 17).
Preocupado com os desafios atuais e futuros que a sociedade coloca aos jovens, o projeto propõe-se responder, com conhecimento e criatividade, às questões que caracterizam e problematizam este período evolutivo. Através de momentos reflexivos e atividades lúdico-pedagógicas, promove-se a aquisição de competências essenciais ao crescimento saudável, reforçando recursos de autoconceito, autoestima, relação com o corpo e autoeficácia.
O #SEM FILTROS parte da compreensão da adolescência como um período marcado por intensas transformações biopsicossociais – uma verdadeira passagem entre o mundo infantil e a vida adulta, simultaneamente desejada e temida. É uma fase de perdas necessárias e de conquistas progressivas, tantas vezes acompanhadas de sofrimento psíquico, razão pela qual alguns autores a conceituam como um processo de ‘depressão maturativa’.
Entre os principais desafios desta etapa destacam-se: (i) a perda do corpo, da identidade e dos pais da infância; (ii) a construção de novas identificações e desidentificações; (iii) a resignificação das narrativas de selfe do narcisismo; (iv) a reorganização das estruturas cognitivas e comunicacionais; (v) a apropriação do corpo adolescente; (vi) a vivência de uma nova etapa do processo de separação-individualização; (vii) a construção de vínculos mais autónomos com os pais; e (viii) a definição de escolhas profissionais iniciais.
Em síntese, é nesta fase que se organiza a identidade, nos seus aspetos sociais, temporais e espaciais. Tendo estes pontos em vista, o programa foi condensado em quatro sessões, cada uma dedicada a um tema específico: (i) A adolescência enquanto período-chave para a construção da identidade e do autoconceito;
(ii) A autoestima, compreendida como a perceção do valor que acreditamos possuir, essencial para a capacidade de nos relacionarmos com o mundo e retirarmos prazer da vida; (iii) A relação com o corpo e a aparência, reconhecendo as vulnerabilidades próprias da idade, a contestação de modelos, a adesão a modas e a pressão dos ideais estéticos; e (iv) A autoeficácia, isto é, a convicção nas próprias capacidades de realização e bem- estar, que influencia diretamente o percurso escolar e a projeção profissional.
Em todas as atividades é dada especial atenção ao fator relacional, já que o amadurecimento só se torna possível através da interação com o Outro. A autonomia é aprendida no seio das relações, e não fora delas. Assim, intervir na adolescência significa reconhecer a tensão permanente entre dois vetores opostos: o desejo regressivo de voltar à infância e o desejo/projeção de crescer e ser adulto. A aprendizagem central que aqui se procura estimular é a capacidade de amar e de construir laços afetivos estáveis e duradouros, condição fundamental para o bem-estar humano.
Num contexto de crescente modernização social, a transmissão da cultura básica muitas vezes carece de carga afetiva. Quando esta falta se instala, a aprendizagem pode ser gravemente comprometida. Daí a importância de oferecer espaços que reforcem vínculos, afetividade e pertença. O #SEM FILTROS surge, assim, como um convite ao crescimento saudável, aceitando a adolescência como um processo em movimento, sempre em curso, sempre inacabado – um gerúndio da vida, que vai sendo tecido na roda incessante do ciclo vital.



