Desde cedo compreendi que Arte e Psicologia não habitam em mim como esferas distintas, mas como realidades interdependentes que se entrecruzam, dialogam e se nutrem mutuamente. A Arte foi a primeira a mostrar-me que não existe vida sem criação, nem criação sem transformação – que criar é abrir espaço para a mudança, para a reconstrução e para a renovação do existir. Mais tarde, a Psicologia revelou-me que essa mesma potência criativa pode ser canalizada para o trabalho interior: recursos emocionais, relacionais, intelectuais e interculturais que nos permitem aceder a versões cada vez mais autênticas e integrais de nós próprios. Hoje, ao revisitar o meu percurso, reconheço que não teria alcançado a frequência da minha continuidade histórica sem esta dupla aprendizagem.
Estou convicto de que a realização humana exige múltiplos níveis de expressão, cada um reclamando atualização, voz e vivência plena do seu potencial. Ao contrário do consumo passivo ou do labor repetitivo, o gesto criativo assume sempre um carácter de insurgência: recusa o estabelecido e convoca o inédito. O novo nasce da insatisfação com o presente e é essa inconformidade que abre caminho à transformação, à saúde psíquica e ao florescimento da vida. Criar é, pois, exercer flexibilidade, adotar novos ângulos de visão, resolver impasses de modo inventivo e questionar verdades sedimentadas.
É precisamente aqui que a criatividade e a psicoterapia se revelam como faces de um mesmo contínuo. Ambas reclamam a ousadia de explorar o desconhecido, de manter a porta entreaberta ao inesperado, permitindo que o imprevisível amplie horizontes. Muitas vezes, a cura consiste nesse gesto: ajudar alguém a reautorizar a própria vida, num movimento análogo ao do artista diante da obra inédita. No fundo, Arte e Psicologia partem da mesma matriz – a necessidade vital de transformar, reconstruir e reinventar a existência. Se, por um lado, a prática clínica me permite acompanhar processos de mudança íntimos e relacionais, por outro, a criação artística oferece-me o espaço de experimentação onde esses mesmos movimentos ganham forma estética e simbólica. Através da Arte, amplio a minha compreensão do humano e devolvo ao mundo aquilo que, de outro modo, permaneceria apenas vivido em silêncio.
É nesse horizonte que se inscrevem os meus projetos artísticos – distintos nas linguagens que adotam, mas unidos pela mesma procura de sentido, transformação e autenticidade: da representação e dança (performances como “(R)Nascimento” e “Nolens Volens”) à expressão plástica (trabalhos individuais e colaborativos, como “Suficiente Solidão”, “Pedra.Papel.Tesoura.Beija-me” e “Sonhar com Ladrões”), passando pelo teatro musical, o fado, a arte erótica, a poesia e a escrita literária – em 2015, autorei o livro de contos “Y“, de cujo temário fazem parte a morte e o luto, as distorções do amor romântico, as vivências ansiogénicas da centrifugação relacional, e os desafios da integração identitária. No prelo, está atualmente, o livro “Se Puderes Vem Antes“, sobre o caminho da desilusão como amadurecimento, identidade queer, feridas de infância, idealização narcísica, e o processo maturativo de reconhecimento e de afirmação da autenticidade individual.
Ao longo deste percurso, fui conquistando diversos prémios e distinções – em 2020, obtive o 1º prémio na 11ª edição do concurso “Encontro de Poesia”, realizado pela Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga; em 2019, obtive o 1.º lugar na 5ª Grande Gala de Fado Solidária, e 2º lugar na Grande Final, organizada pela Associação Fado e Poesia; ainda nesse ano, o 2º lugar no Poetry Slam Porto, com os poemas “Boca’ge”, “Quem Tem Medo da Solidão?” e “Autopsia ou Ode a Nada em Particular”. Em 2010, fui galardoado com o 1.º prémio no Concurso Literário Ovarense “Dar Voz à Poesia”. Anteriormente, o 1.º prémio no Concurso Literário D. Sancho I (2004), em Vila Nova de Famalicão, e no Concurso Literário Internacional Mérida-Évora (2003) com a obra “A Casa do Passado“.



