Magenta. That’s what I call it when I get that way. All kinds of feelings tumbling all over
themselves. Well, you see… you’re not quite blue because you’re not really sad. And although you’re
a little bit jealous, you wouldn’t say you’re green with envy. And every now and then, you realize
you’re kind of scared, but you’d hardly call yourself yellow. I hate that feeling; I just hate it. And I
hate the color magenta. That’s why I named it that. Magenta.

In ‘The Golden Girls’

DO MAGENTA AO DIAGNÓSTICO: COMO NOMEAR O INOMINADO PODE CURAR


1. AS QUEIXAS

Carlos, onde estão as pessoas?”, “Onde estão as pessoas que querem conversar de forma autêntica, sem máscaras nem interesses escondidos?”, “Porque é que parece que toda a gente só procura romance ou sexo, e não amizade verdadeira?”, “Já não é possível ter uma amizade profunda sem que alguém confunda com interesse romântico?”, “Será que estou a pedir demais ao esperar reciprocidade e lealdade nas amizades?”, “Porque sinto que tenho de estar sempre disponível para os outros, mas quase ninguém está para mim?”, “Será que o problema sou eu, ou as relações hoje em dia tornaram-se todas descartáveis?”, “Porque é que tenho medo de mostrar vulnerabilidade, se é exatamente isso que cria proximidade?”, “Será que a amizade perdeu valor na sociedade atual?”, “É possível, em adulto, criar laços tão profundos como aqueles que tínhamos na adolescência?”.

Cada vez mais pessoas relatam dificuldade em criar e manter amizades profundas, estáveis e saudáveis na vida adulta. Não se trata apenas de falta de tempo ou de oportunidade, mas de algo mais profundo:
– Muitas interações são rapidamente sexualizadas ou romantizadas, o que dificulta relações significativas e genuínas;
– Existe uma escassez de responsabilidade afetiva – isto é, clareza, respeito e cuidado com o impacto que temos nos outros;
– Há também um défice de inteligência emocional: dificuldades em comunicar vulnerabilidade, em gerir conflitos e em sustentar proximidade sem interesse escondido;
– A cultura digital e a pressão pelo imediatismo tornam as relações mais descartáveis e superficiais.

Como resultado, muitos adultos sentem uma verdadeira “fome de relações autênticas”: desejam vínculos baseados em confiança, apoio mútuo e presença genuína – mas encontram barreiras sociais e emocionais para isso.

2. A FALTA DE UM DIAGNÓSTICO

O que é um diagnóstico? O termo vem do grego diagnōsis (διάγνωσις), que significa “discernimento” ou “capacidade de distinguir”. Na prática clínica, um diagnóstico é o processo de identificar e nomear uma condição de acordo com critérios reconhecidos (por exemplo, os manuais DSM ou CID na saúde mental).

Porque é importante o diagnóstico? Porque dá clareza e compreensão à pessoa sobre o que está a viver; porque ajuda a orientar estratégias de tratamento e acompanhamento, e porque permite uma comunicação clara entre profissionais de saúde.

Contudo, nem todas as queixas relacionais têm diagnóstico. Muitas vezes, não estamos perante uma perturbação, mas sim diante de desafios de desenvolvimento pessoal, padrões emocionais herdados ou dificuldades de comunicação. Nestes casos, na necessidade de ajudar os/as meus/minhas clientes, venho sentindo como importante encontrar uma etiqueta para melhor dar a compreender a experiência, validar o sofrimento e construir caminhos de mudança.

Quanto a estas queixas relacionais, não há ainda um “nome oficial único” para este fenómeno, mas na literatura em psicologia, sociologia e estudos culturais aparecem termos e conceitos próximos:

– “Recessão das amizades” (friendship recession): muitos investigadores falam deste termo para se referirem à ‘escassez de amizade adulta’, sobretudo em sociedades urbanas e digitalizadas, onde os laços fortes diminuem e predominam contactos superficiais;

Indisponibilidade emocional (emotional unavailability): pessoas têm dificuldade em oferecer vínculo autêntico que não esteja mediado por interesse romântico, sexual ou utilitário;

Irresponsabilidade afetiva: Conceito cada vez mais falado em contextos de psicologia e ativismo social: implica a falta de clareza, honestidade e cuidado no impacto que temos nas emoções dos outros, gerando vínculos frágeis ou relações tóxicas;

– Instrumentalização das relações: Sociologicamente, fala-se de como, em sociedades neoliberais, vínculos humanos tendem a ser tratados como instrumentais (meios para obter algo), e não como fins em si.

– “Erosão da amizade” (erosion of friendship): Termo usado em alguns estudos sobre cultura digital, onde redes sociais e apps de encontros reforçam a lógica de seleção/descarta, reduzindo espaço para amizade profunda sem expectativa romântica ou sexual.

O que se observa como fenómeno social: 1. Hiperfoco no par romântico/sexual → a amizade acaba desvalorizada; 2. Ansiedade relacional e estilos de apego inseguros → dificultam a construção de vínculos estáveis; 3. Cultura de imediatismo digital → encontros rápidos, pouco espaço para desenvolvimento de intimidade platónica; e 4. Déficit de competências socioemocionais (inteligência emocional, responsabilidade afetiva) → muita gente não aprendeu a sustentar relações com empatia e limites saudáveis.

Analisemos, sucintamente, cada um destes fenómenos:

1. O hiperfoco no par romântico/sexual e a desvalorização da amizade

Vivemos numa cultura que coloca o par romântico – e, muitas vezes, também o vínculo sexual – no centro da vida relacional. Filmes, músicas, redes sociais e até expectativas familiares reforçam a ideia de que “a relação de casal” é a mais importante, aquela que valida a nossa existência e felicidade.

Venho percebendo que muitas pessoas, quando sentem carência emocional, procuram preencher esse vazio através de relações rápidas e intensas. Nesse contexto, surge a tendência de sexualizar ou romantizar quase qualquer vínculo – mesmo aqueles que poderiam ser apenas de amizade. Nestes casos, isso acontece porque o desejo de validação e proximidade é confundido com atração. Muitas pessoas crescem com menos validação familiar e social, o que aumenta o desejo de serem vistas, amadas e reconhecidas. Neste contexto, o corpo e o desejo tornam-se moedas de validação: se alguém me deseja, então sinto que valho. Se alguém me escolhe como par romântico, então sinto que pertenço. A carência gera pressa, e a pressa transforma a relação num atalho: se o outro me deseja ou me ama romanticamente, então sinto-me importante, reconhecida, suficiente. Só que este atalho fragiliza os laços.

O problema é que, ao sexualizar e/ou romantizar vínculos de forma indiscriminada, acabamos por desvalorizar a amizade. A amizade, que poderia ser um espaço de apoio constante, intimidade emocional e crescimento mútuo, é muitas vezes vista como secundária, descartável ou apenas transitória até encontrarmos “a pessoa certa”. Na verdade, o que está por baixo é a necessidade legítima de conexão e cuidado. Quando essa necessidade não é reconhecida e trabalhada, acaba por se manifestar em busca compulsiva de romance ou sexo, em vez de vínculos genuínos e variados.

Esta lógica cria consequências visíveis:

– Empobrece-se a amizade – que perde o seu lugar como espaço de intimidade não sexual, capaz de sustentar a vida afetiva mesmo fora da esfera sexual ou romântica;

– Cria-se dependência – porque a validação passa a vir apenas da atração ou do romance;

– Aumenta-se a frustração – já que o vazio da carência não se preenche com desejo rápido – cura-se com afetos autênticos e vínculos genuínos.

Na prática, isso gera uma espécie de pobreza relacional. Quem aposta apenas no par romântico acaba mais vulnerável à solidão, sobretudo em fases de rutura, e perde a riqueza que amizades fortes e autênticas podem oferecer.

2. Ansiedade relacional e estilos de vinculação inseguros

Muitos adultos carregam padrões de relação herdados das primeiras experiências de vinculação – com pais, cuidadores ou figuras de referência. Quando essas experiências foram marcadas por instabilidade, crítica, ausência ou rejeição, é comum desenvolver estilos de vinculação inseguros. Isso traduz-se em ansiedade relacional (medo de abandono, procura excessiva de validação), em evitamento (reserva emocional, dificuldade em confiar) ou uma combinação de ambos (estilo desorganizado). O resultado é a dificuldade em sustentar vínculos estáveis: ou a relação é sufocada pela ansiedade, ou fragilizada pela distância emocional. Sem consciência destes padrões, muitos adultos repetem ciclos de frustração e solidão, mesmo desejando proximidade. O medo de abandono ou a tendência para evitar intimidade tornam difícil sustentar amizades estáveis. Assim, muitas relações platónicas acabam fragilizadas ou até descartadas. Trabalhar a vinculação e a confiança ajuda a curar esta ferida e a revalorizar a amizade como um espaço seguro, onde a vulnerabilidade é acolhida e não punida.

3. Cultura de imediatismo digital

A era digital trouxe uma facilidade inédita de conectar – mas também uma lógica de descarte. Aplicações de encontros e redes sociais promovem interações rápidas, superficiais e baseadas em impressões imediatas. Este imediatismo digital gera encontros que raramente se transformam em relações platónicas profundas, porque não há tempo ou disposição para cultivar intimidade. A paciência, a espera e o cuidado – elementos essenciais para laços significativos – são substituídos por “matchs” instantâneos e conversas efémeras. Assim, o próprio ritmo social mina a possibilidade de vínculos consistentes. Na lógica do “match” e do “descartar”, a amizade perde profundidade e torna-se facilmente substituível. Resgatar a paciência e o tempo de cultivar laços é resgatar também o valor da amizade, que exige constância, cuidado e presença para florescer.

4. Déficit de competências socioemocionais

A escola ensina matemática, línguas e ciências, mas raramente ensina como lidar com emoções, comunicar vulnerabilidade ou estabelecer limites. O resultado é um défice coletivo de inteligência emocional e de responsabilidade afetiva. Muitas pessoas não sabem escutar sem julgar, não sabem dizer “não” sem culpa, nem pedir apoio sem sentir vergonha. Isso compromete a qualidade das relações: faltam empatia, clareza e cuidado com o impacto que temos nos outros. Para sustentar amizades e vínculos saudáveis, é preciso aprender – e praticar – estas competências. Sem elas, as relações tornam-se frágeis, conflituosas ou superficiais. Sem empatia, assertividade e responsabilidade afetiva, as amizades tornam-se superficiais, cheias de mal-entendidos ou dependências. Investir nestas competências é investir na qualidade das amizades – porque são elas que permitem sustentá-las de forma saudável e duradoura.

Em suma: Revalorizar a amizade significa reconhecer que o amor romântico ou o envolvimento sexual não são as únicas formas de intimidade significativa. No fundo, existe uma necessidade legítima e saudável de conexão, reconhecimento e segurança. Reaprender a valorizar a amizade, a ternura e a empatia – sem as sexualizar – é um ato revolucionário. É afirmar que somos dignos de afeto, apoio e lealdade – não apenas como parceiros, ou pelo desejo que despertamos, mas como pessoas inteiras: é uma forma de curar a carência na sua raiz. Amizades profundas podem ser tão ou mais estáveis, leais e transformadoras. E talvez a verdadeira mudança social passe por diversificarmos os nossos investimentos afetivos: cultivar não só o par romântico, mas também as amizades, as comunidades e todas as relações que nos dão sentido.

Penso que reconhecer este fenómeno é o primeiro passo. A partir daí, torna-se possível construir intencionalmente amizades saudáveis, procurando pessoas que valorizem reciprocidade, empatia e lealdade, e também desenvolvendo em si mesmo essas competências.

3. UMA PROPOSTA DE DIAGNÓSTICO:

3.1. Das Queixas aos Sintomas

Quando pessoas vivem esta fome de relações autênticas e se deparam com um mundo relacional marcado pelo imediatismo, insegurança afetiva e desvalorização da amizade, o sofrimento aparece sob várias formas. Não é raro que em consulta surjam expressões como:
. Solidão persistente, mesmo rodeados de gente;
. Sensação de vazio: a experiência de que as interações não são suficientemente nutritivas, como se algo estivesse sempre a faltar;
. Ansiedade social e relacional: medo de ser abandonado, de não ser escolhido ou de “não ser suficiente”;
. Hipervigilância nas relações: interpretação constante de sinais de rejeição, necessidade de garantias e validação;
. Desconfiança e evitamento: dificuldade em confiar, em mostrar vulnerabilidade ou em sustentar intimidade;
. Baixa autoestima relacional: crença de que não se é importante ou de que não se merece vínculos profundos;
. Raiva e ressentimento: perante experiências de desilusão ou exploração (ser usado, sentir-se descartável);
. Desgaste emocional: cansaço por ter de investir continuamente em relações que não retornam o mesmo cuidado;
. Dificuldade em estabelecer limites: aceitar mais do que gostaria, por medo de perder a ligação;
. Padrão de autoacusação: “Será que o problema sou eu?”, “Será que estou a pedir demais?”.

É certo que vivemos numa cultura clínica cada vez mais marcada por classificações e etiquetas diagnósticas. A psiquiatria e a psicologia clínica dispõem de manuais (DSM, CID) que permitem enquadrar sintomas em categorias precisas, o que facilita tratamento, investigação e comunicação entre profissionais. Mas no fundo, estas queixas relacionais manifestam-se como sintomas emocionais e interpessoais, sem encaixarem num diagnóstico clínico específico, embora provoquem sofrimento real: são tratadas como expressões de um mal-estar contemporâneo: a erosão da amizade e da intimidade não-romântica como pilar essencial da saúde mental

Ao debruçar-me atentamente sobre estas questões, ocorreu-me a passagem de uma cena da série americana dos anos 80, ‘The Golden Girls’:

Magenta. That’s what I call it when I get that way. All kinds of feelings tumbling all over themselves. Well, you see… you’re not quite blue because you’re not really sad. And although you’re a little bit jealous, you wouldn’t say you’re green with envy. And every now and then, you realize you’re kind of scared, but you’d hardly call yourself yellow. I hate that feeling; I just hate it. And I hate the color magenta. That’s why I named it that. Magenta.

Ligação: https://www.youtube.com/watch?v=5R05uvTBBzo

Na cena citada, a personagem descreve um estado emocional complexo, que não cabe em nenhuma das categorias convencionais: nem tristeza pura (azul), nem inveja (verde), nem medo (amarelo). É um emaranhado de sentimentos – desconfortável, difuso e difícil de nomear. Como não encontra palavra adequada, ela cria a sua própria: “magenta”.

O que seria mais uma passagem cómica da série, tornou-se-me uma metáfora poderosa para pensar os sintomas relacionais sem diagnóstico. Tal como o “magenta”, muitas experiências de mal-estar não estão contempladas nos manuais psiquiátricos (DSM, CID). São vivências reais, dolorosas, que não podem ser reduzidas às etiquetas já existentes. Dar um nome novo – mesmo que ainda não oficial, não reconhecido – cumpre duas funções cruciais:

– Validação subjetiva – permite à pessoa reconhecer a experiência, dizer “isto existe, eu sinto isto”;

– Possibilidade de futuro diagnóstico – o que hoje é apenas “magenta”, amanhã pode ser formalmente descrito e classificado, tal como no passado aconteceu com várias condições (por exemplo, a depressão pós-parto ou o burnout, que antes eram vistos apenas como “cansaço” ou “tristeza”):

Assim, a cena das Golden Girls mostra-nos que a nomeação é já um gesto clínico e cultural. Antes de ser reconhecido pela psiquiatria, todo diagnóstico nasce de alguém que ousou dizer: “Isto que sinto é diferente, merece um nome”.

É por isso que importa avançar para diagnósticos específicos:

Pela visibilidade do sofrimento – O que não tem nome, muitas vezes não existe socialmente. Sem uma categoria que o designe, o sofrimento relacional tende a ser desvalorizado (“é só falta de amigos”, “isso passa”). Nomear é validar: reconhece-se que aquilo que a pessoa sente é legítimo e merece atenção.

Pela clareza para quem sofre – Dar um nome ajuda a compreender a experiência e a distingui-la de outras condições (por exemplo, diferenciar entre solidão existencial, depressão ou ansiedade social). A pessoa deixa de sentir que “é ela o problema” e começa a perceber que vive um fenómeno partilhado, com explicação.

Pela orientação terapêutica – Um diagnóstico rigoroso orienta a intervenção. Se entendemos que a dificuldade decorre, por exemplo, de défice de competências socioemocionais ou de hiperfoco no par romântico, as estratégias clínicas podem ser dirigidas para treino de assertividade, fortalecimento da rede de apoio ou ressignificação de padrões de apego.

Pela investigação científica – Ao reconhecer estas queixas como uma entidade própria, abre-se espaço para investigação empírica: medir prevalência, estudar impacto, avaliar intervenções específicas. Isso permite produzir conhecimento sólido em vez de generalizações vagas.

Pela mudança cultural – Diagnósticos não são apenas ferramentas médicas: também moldam o modo como a sociedade percebe certos fenómenos. Ao nomearmos o mal-estar relacional contemporâneo, chamamos atenção para a importância da amizade, da responsabilidade afetiva e da inteligência emocional como dimensões de saúde mental.

Em suma: dar nome é dar existência. Um diagnóstico específico e rigoroso para estas queixas relacionais não serve para patologizar a amizade, mas para reconhecer o sofrimento que emerge da sua desvalorização, oferecer clareza a quem o vive e orientar estratégias de transformação individual e coletiva.

Crise das Amizades Adultas (transmitindo a ideia de uma dificuldade coletiva em criar e manter amizades verdadeiras na vida adulta)? Déficit de Vínculo Saudável (enfatizando que não é falta de pessoas, mas de qualidade nas ligações – inteligência emocional, responsabilidade afetiva)? Erosão dos Laços de Amizade (remetendo à perda do valor das amizades que não têm cunho romântico ou sexual)? Fome de Relações Autênticas (captando a sensação que muitos clientes descrevem: carência de vínculos genuínos)? Recessão das Amizades (tradução de “friendship recession”, já usado em alguns estudos sociológicos, dando legitimidade académica e ligando o fenómeno a transformações sociais)? Ou simplesmente “Magenta”.

3.2. Do Magenta ao Diagnóstico: como nomear o inominado pode curar

Seja: “Magenta”. Um termo provisório, ainda não canonizado pela psiquiatria, mas que transmite o desconforto de um estado emocional real, vivido por milhares de pessoas e ainda invisível nas classificações clínicas. Dar nome é o primeiro passo para reconhecer que este vazio não é apenas “um capricho” ou “um problema individual”, mas sim um sintoma social da forma como nos relacionamos hoje. O hiperfoco no par romântico, a cultura digital do imediatismo, o défice de competências socioemocionais e os padrões de apego inseguros criam terreno fértil para esta crise das amizades. Se aceitarmos o desafio de chamar-lhe “Magenta” (ou outro nome que a comunidade científica e cultural venha a adotar), abrimos a porta a três movimentos:

1. Clínico – validar o sofrimento e orientar intervenções específicas;

2. Académico – investigar causas, impactos e estratégias de prevenção;

3. Cultural – resgatar a amizade, a responsabilidade afetiva e a inteligência emocional como pilares de saúde mental.

Em última análise, talvez “Magenta” seja apenas um ponto de partida, mas é já uma afirmação clara: aquilo que dói sem nome merece ser visto, dito e cuidado.

DIAGNÓSTICO À COMUNIDADE: O “GRUPO

MAGENTA”

Here’s the church and there’s the steeple. Open the door and see all the people

(In Coleção de Rimas Infantis Inglesas)

Se a metáfora do “Magenta” nos ajuda a nomear um mal-estar relacional ainda sem lugar nos manuais clínicos, é igualmente verdade que nomear não basta. É preciso criar espaços concretos onde este sofrimento possa ser reconhecido, partilhado e transformado. Na prática clínica, escuto repetidamente perguntas que ecoam o mesmo vazio: “Onde estão as pessoas?”. Estas queixas não se resolvem apenas com técnicas individuais; pedem também respostas coletivas, pois tratam de uma ferida cultural: a erosão da amizade como pilar da saúde mental. É neste ponto que proponho a criação de um ‘grupo Magenta’ – não um grupo terapêutico formal, mas um espaço comunitário de encontro, partilha e experiência de novas formas de vínculo. O grupo parte de três premissas fundamentais:

. Validar a experiência – ao reunir pessoas que sentem o mesmo, damos legitimidade ao sofrimento e desfazemos a ideia de que “o problema sou eu”;

. Experimentar novas práticas relacionais – o grupo é um laboratório vivo para treinar responsabilidade afetiva, empatia, escuta ativa e reciprocidade;

. Construir rede e pertença – o isolamento agrava a carência; ter um espaço regular de convívio e apoio ajuda a transformar solidão em pertença.

A criação do grupo responde, portanto, à necessidade de passar do conceito ao gesto: da reflexão sobre o diagnóstico à construção de uma comunidade concreta. Tal como um diagnóstico oferece clareza, um grupo oferece cuidado partilhado.

O plano inicial é simples: criar primeiro um espaço no Instagram, dedicado à divulgação de reflexões, textos e testemunhos, e um grupo no WhatsApp, mais íntimo, para partilha direta e organização de encontros virtuais ou presenciais.

Ao chamar este espaço de “Grupo Magenta”, não pretendo fixar uma etiqueta definitiva, mas assumir que o que não tem nome, aqui ganha voz. Que o mal-estar sem lugar, aqui encontra reconhecimento. E que a amizade, tantas vezes desvalorizada, aqui é resgatada como valor central.

4.1. Objetivos do Grupo

. Validar experiências: reconhecer que a solidão, a fome de vínculos autênticos e a desvalorização da amizade não são problemas individuais, mas sintomas sociais;

. Promover novas práticas relacionais e crescimento pessoal: treinar responsabilidade afetiva, empatia, escuta ativa e reciprocidade em contexto comunitário; quem participa, não só encontra vínculos, mas também aprende a ser melhor nas relações;

. Construir rede e pertença: criar um espaço seguro onde cada pessoa se sinta vista, ouvida e apoiada;

. Alternativa saudável: um grupo assim contraria a lógica do imediatismo e da superficialidade predominante;

. Revalorizar a amizade: afirmar a importância das relações de amizade, da bondade, da ternura e da lealdade como formas essenciais de intimidade.

4.2. Valores Fundamentais

. Autenticidade: cada pessoa é convidada a estar presente tal como é, sem máscaras nem papéis impostos;
. Respeito: opiniões, limites e ritmos individuais são sempre considerados;
. Reciprocidade: dar e receber apoio de forma equilibrada;
. Diversidade: todas as identidades, histórias e formas de viver os vínculos são bem-vindas;
. Confidencialidade: o que é partilhado no grupo não sai do grupo, salvo em situações de risco.

4.3. Regras Básicas de Convivência

. Escuta ativa e sem julgamento: ouvir é tão importante quanto falar;
. Não sexualizar nem romantizar vínculos dentro do grupo: este é um espaço dedicado à amizade e à conexão pela amizade;
. Respeitar limites: não insistir em interações se a outra pessoa não se mostra disponível;
. Cuidado na linguagem: usar palavras que promovam empatia e não violência;
. Igualdade de voz: todos/as têm espaço para partilhar; evitar monopolizar as conversas.
. Sem spam ou autopromoção: o foco é a partilha humana, não a divulgação de produtos, serviços ou agendas pessoais;
. Apoio, não terapia: este grupo não substitui acompanhamento profissional em saúde mental.

4.4. Estrutura Inicial

(i) Perfil de Instagram: espaço aberto de divulgação de reflexões, textos e testemunhos;
(ii) WhatsApp: espaço mais íntimo de partilha, apoio mútuo e organização de encontros virtuais/presenciais;
(iii) Encontros periódicos: momentos de convivência (online ou presenciais) para fortalecer laços e praticar os valores do grupo.

Moderação: encarrego-me de orientar o grupo para manter respeito, evitar julgamentos e alinhar com os princípios.

O GRUPO MAGENTA ESTÁ A NASCER – E TU PODES FAZER PARTE!

É com enorme alegria que partilho que o Grupo Magenta já tem a sua página oficial no Instagram. Este será o nosso ponto de encontro aberto ao mundo: um espaço de reflexão, partilha e visibilidade para tudo aquilo que tantas vezes sentimos, mas que permanece sem nome – ou, como proponho, “Magenta”. Se sentes curiosidade, identificação com este movimento, ou simplesmente vontade de te juntar a uma comunidade que valoriza autenticidade, amizade, responsabilidade afetiva e vínculos mais humanos, estás convidado/a a fazer parte.

Como participar? Para garantirmos que o grupo se mantém seguro, respeitoso e alinhado com os seus valores, quem quiser integrar o Grupo Magenta (no WhatsApp ou nos encontros presenciais/virtuais) deverá preencher um breve formulário. Este formulário funciona como uma triagem delicada, não para excluir, mas para assegurar que todas as pessoas que entram compartilham do espírito do grupo: empatia, respeito, confidencialidade e vontade genuína de criar relações mais profundas.

FORMULÁRIO: https://forms.gle/SmmAXNVvGZs6f13E9

O que acontece depois?
Após preencheres o formulário:

  1. Receberás uma resposta minha;
  2. Passarás a receber informações sobre encontros, atividades e iniciativas.

A página de Instagram já está ativa, e será o nosso espaço público de inspiração e reflexão. O WhatsApp será o nosso espaço íntimo de pertença.

O Grupo Magenta é, acima de tudo, uma resposta concreta a um diagnóstico coletivo: a fome de relações autênticas e a erosão da amizade como pilar de saúde mental. Este é o nosso gesto de cura, de encontro e de reconstrução. Se sentes que este movimento te chama, cá te esperamos. Sê bem-vindo/a.

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